quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

População vê racismo contra o padre e protesta;bispo deixa a igreja escoltado.






O bispo de Marília (SP), dom Luiz Antonio Cipolini, foi acuado dentro da Igreja Matriz de Adamantina, também no interior paulista, e teve de sair escoltado por policiais militares, na noite deste domingo (7).
O bispo estava na cidade para comandar a missa de Crisma, quando cerca de 2.000 pessoas se reuniram em um protesto do lado de fora da igreja para lhe cobrar explicações sobre a substituição do padre negro Wilson Luís Ramos. Com medo, dom Luiz se trancou na igreja e só saiu por volta das 23h, 1h50 depois do final da missa.
Antes de sair escoltado, o bispo enfrentou momentos de constrangimento já dentro da igreja, que estava lotada. Dom Luiz teve de interromper a cerimônia religiosa, que já estava na sua fase final, ao ser vaiado pelos fiéis, revoltados com a saída de padre Wilson.
Sem que o bispo desse alguma explicação sobre a saída do padre em seu sermão, manifestantes, na maioria jovens com narizes de palhaço, levantaram cartazes e gritavam “fica, padre Wilson”. Em seguida, gritando a palavra “indignação”, os manifestantes passaram a jogar moedas no altar da igreja. Diante do barulho provocado pelo protesto, o bispo interrompeu a missa e repassou o microfone ao padre Wilson, que pediu aos manifestantes para parar, mas não foi atendido.
Os jovens continuaram gritando, ainda por alguns minutos, e foram apoiados pelo restante dos fiéis, que lotava a igreja — de 1.200 lugares — e batia palmas. A revolta com a substituição do padre continuaria do lado de fora da igreja, após o encerramento da missa. Cerca de 2.000 pessoas gritavam frases contra o racismo e contra o bispo, porque ele demorava a sair.
Para o vendedor Paulo Roberto Scavassa, que frequenta a Paróquia Santo Antônio de Pádua há mais de 30 anos, trata-se se uma atitude racista.
— Nós só queremos que ele nos explique por que está retirando o padre de nossa cidade. Para nós, fica cada vez mais evidente que se trata de um ato de racismo.
Padre Wilson foi o primeiro negro a assumir a principal paróquia de Adamantina, mas, ao contrário dos padres anteriores que ficaram mais de dez anos, Ramos permaneceu na cidade somente por menos de dois anos.
Depois de quase uma hora de espera, padre Wilson saiu e tentou conversar com os manifestantes.
— Deixem o bispo sair, por favor.
Em resposta, os manifestantes gritavam “não”, para em seguida gritar “explicação, explicação”.
Ao perceber que não conseguiria convencer ninguém, o padre retornou para dentro da igreja, aos gritos de “Fica, padre Wilson”. Já passava das 23h quando o bispo deixou a igreja, escoltado por dezenas de PMs.
Enquanto dom Luiz saía, a multidão o chamava de “racista” aos gritos. Mas o bispo ainda teria de retornar a Marília dentro do carro de um sargento da PM, porque o carro dele teve os pneus esvaziados e foi riscado pelos manifestantes.
A manifestação foi a segunda ocorrida em dois dias seguidos em Adamantina. No sábado (6), cerca de 2.000 pessoas, vestidas de preto e com velas nas mãos e faixas condenando o racismo, fizeram uma passeata em apoio ao padre.
Colaboradores
A substituição foi pedida ao bispo por um grupo de fiéis ricos e conservadores, colaboradores da igreja, que tinham sido substituídos pelo padre em cargos de coordenação da paróquia que ocupavam havia 13 anos.
O grupo estaria descontente com a opção dada pelo padre aos pobres e jovens usuários de drogas, que passaram a frequentar a principal igreja da cidade desde que o padre chegara a Adamantina havia dois anos. Neste período, Ramos sofreu preconceito por parte de fiéis.
“Outro dia vi duas mulheres dizendo que deveriam substituir o galo do alto da torre da igreja por um urubu”, contou o padre em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo na semana passada. Na mesma ocasião, o próprio bispo relatou o preconceito sofrido pelo padre.
Nesta segunda-feira (8), padre e bispo não foram localizados para falar sobre as manifestações. Padre Wilson deixou o celular na caixa postal e o telefone da casa do bispo estava no fax. Segunda-feira é dia de folga dos religiosos. Pela circular expedida pelo bispo na sexta-feira (5), padre Wilson deve deixar a casa da paróquia até esta terça-feira (9).


Fonte: Geledés

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